domingo, 25 de maio de 2008

Cresce o número de casos de agressão contra idosos em Maringá




Em dois anos, de 2005 para 2007, o número de ocorrências de maus-tratos a idosos saltou de 58 para 89; na maior parte dos casos, os agressores pertencem às famílias das vítimas.


Pela lei natural da vida, pais não devem enterrar filhos. A morte deveria obedecer o critério cronológico. Vai primeiro quem chegou antes. Da mesma forma, filhos precisam respeitar os pais. Ou deveriam.

O aumento no número de casos de maus-tratos e abandono registrados na Promotoria de Proteção ao Consumidor, Idoso, Fundações e Terceiro Setor, de Maringá, que tem se transformado em termos circunstanciados e inquéritos policiais, demonstra que a lei natural está sim, sendo seguida, mas sem que o fim da vida tenha chegado. Alguns idosos estão sendo "enterrados vivos".

"Na maior parte das vezes é o próprio agredido quem vem reclamar, ou então um familiar que está descontente com o cuidado que outro familiar está dispensando ao idoso", diz o promotor José Lafaieti Barbosa Tourinho.

Para cada reclamação é aberto um procedimento administrativo, acompanhado pela assistente social do Ministério Público ou da Secretaria de Assistência Social e Cidadania (Sasc). "Chamamos imediatamente os filhos para conversar para tentar resolver o problema em família. Só retiramos o idoso do convívio familiar em último caso", explica Tourinho.

A idosa A. S. R., hoje com 81 anos, é uma das vítimas de maus-tratos a idosos. A morte do único filho a deixou sob responsabilidade da nora. Enquanto esteve internada em um hospital, A. perdeu a casa na qual morava em Sarandi, e todos os pertences, vendida pela nora sem sua autorização.

Sem ter para onde ir depois da alta hospitalar, a idosa foi morar com a nora e dois netos crianças em Maringá. A idosa ficava em uma edícula nos fundos da casa. Não havia alimentos disponíveis, nem mesmo banheiro que pudesse ser usado.

De acordo com o relatório feito pelas assistentes sociais da Sasc, que chegaram até a casa por meio de uma denúncia anônima feita no Disque Idoso, a idosa defecava em uma lata. Além disso, a aposentadoria dela era retida pela nora.

Acionado, o promotor determinou que a idosa passasse a freqüentar o Centro Dia do Idoso, da prefeitura, e que fosse novamente visitada pelas assistentes sociais. Posteriormente, ela contou diretamente ao promotor seu infortúnio, afirmando que a nora era muito brava e que lhe dava medo. À nora foi pedido que devolvesse os cartões bancários da idosa, mas, diante de seguidas recusas, ela foi denunciada por furto e ocultação de documentos.

Condenada, chegou a ficar presa em Astorga, mas fugiu. A idosa foi acolhida no Lar dos Velhinhos, onde vive até hoje. Forte, saudável, mas afirmando ter esquecido de tudo, A. conta que está feliz e que "não faz nada". "Almoço, durmo, rezo e janto. A vista escureceu, não posso nem fazer um crochê."

De acordo com o promotor, casos com o de A., em que não há parente nenhum, ou aqueles nos quais sobram familiares, são os mais difíceis de resolver. "Já entrei com ação de alimentos contra nove filhos de uma vez. Ninguém queria pagar pensão para a mãe", revela o promotor.

Para a assistente social da promotoria, Marinês Germano, entre os vários fatores que contribuem para os maus-tratos, o suposto direito sobre a vida do idoso é o que mais se destaca. "Os filhos acham que, na velhice, a pessoa não tem mais vontade própria e pode, por isso, ser desrespeitada. Mas não é assim que deve ser."


Para denunciar

►0800-41-00-01 é o telefone do Disque Idoso Paraná, válido em todo o Estado; o serviço atende de segunda à sexta-feira, das 8h30 às 12 horas e das 13h30 às 17h30.


O Diário do Norte do Paraná.

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