quinta-feira, 1 de maio de 2008

Ensino a distância

Lançada originariamente há quase trinta anos pela Universidade de Brasília (UnB), com base em experiências desenvolvidas por universidades inglesas, a chamada "educação a distância", que não exige a presença de estudantes em sala de aula, é hoje um grande sucesso no País. Adotado pelas universidades públicas, especialmente as federais, a partir do início da atual década, esse tipo de ensino têm cerca de 830 mil alunos regularmente matriculados em cursos de graduação e de pós-graduação lato sensu (que é voltado à formação de especialistas).

Comparativamente, em 2000 só havia 10 cursos desse tipo na graduação, com um total de apenas 8 mil alunos. Atualmente, estão credenciados no Ministério da Educação (MEC) 349 cursos a distância, com mais de 430 mil alunos. Na pós-graduação são 255 cursos, com mais de 390 mil estudantes. No início, a educação a distância fazia parte dos chamados "programas de extensão universitária", atendendo às necessidades dos Estados mais pobres do País.

Com o tempo, o número de cursos de especialização foi suplantado pelo número de cursos de graduação criados com o objetivo de formar professores para as escolas da rede pública de ensino básico situadas em cidades longínquas ou em zonas rurais. "Como uma professora que é casada, tem filhos e mora no interior pode vir para a capital e cursar uma faculdade? Também não podemos levar os professores para lá. Consideramos que é um compromisso da universidade pública formar essas pessoas", diz a pró-reitora adjunta de graduação da Universidade Federal de Minas Gerais, Maria Carmela Polito Braga.

Apesar de alguns especialistas verem com reservas os cursos não presenciais, os resultados dos programas de educação a distância das universidades públicas têm sido surpreendentes. Segundo dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), vinculado ao MEC, os estudantes desse tipo de ensino obtiveram uma pontuação superior à dos alunos dos cursos convencionais em 7 de 13 graduações - entre elas Matemática, Biologia, Física e Administração - avaliadas no último Exame de Desempenho dos Estudantes (Enade). Nos outros 6 cursos avaliados, dos quais se destacam Letras, História e Geografia, as notas foram semelhantes. Os alunos dos cursos não presenciais são "diferenciados" e os números mostram que "o sistema ganhou credibilidade", diz Fábio Sanches, coordenador do Anuário Brasileiro Estatístico de Educação Aberta e a Distância, que acaba de ser divulgado pelo MEC.

Segundo o Anuário, o aluno de um curso a distância está na faixa etária de 30 a 35 anos. Ele é casado, com filhos, fez o ensino básico numa escola pública, trabalha de dia e tem um rendimento médio mensal de até três salários mínimos. "Em geral, é um público mais disciplinado, mais dedicado, porque o ensino a distância é a (única) oportunidade que ele tem", afirma o pró-reitor da Universidade Metodista de São Paulo, Luciano Sathler, que oferece 11 cursos a distância. "Os alunos já estão no mercado de trabalho, não conseguiram concluir uma faculdade quando eram mais jovens ou já estão formados em outras áreas", conclui. "Como não temos a figura do professor da disciplina, precisamos entender tudo para ir bem nas provas", diz Dayselane Pimenta, que ensina matemática numa escola estadual e faz pós-graduação a distância na Universidade Federal Fluminense.

A maioria dos cursos a distância funciona por meio da distribuição de apostilas e livros e de uma plataforma na internet, que permite aos alunos acessar aulas, conteúdos e sugestões bibliográficas. Uma vez por semana, um tutor esclarece dúvidas e dá orientações aos alunos. O sistema de avaliações muda de instituição para instituição, mas dois terços dos cursos aplicam provas escritas e provas práticas presenciais. O terço restante exige entrega de relatórios de leitura, atividades de pesquisa e trabalho de conclusão de curso.

O Anuário que o MEC acaba de divulgar mostra que o ensino a distância, além de oferecer oportunidade de formação superior a quem mora em cidades longínquas ou em zonas rurais, pode ter qualidade equivalente aos cursos presenciais.


Estadao

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