quarta-feira, 21 de maio de 2008

Entrevista - Rodrigo Plá e Laura Santillo

Alejandro é um adolescente que vive em uma zona residencial fechada, autosuficiente e com uma forte segurança privada na Cidade do México. Tanto sua família como os outros residentes, levados pela crescente criminalidade, o medo da violência e o desrespeito às leis, elegeram este lugar como último reduto de paz.



Durante uma madrugada, três intrusos armados conseguem entrar no condomínio para assaltar uma casa. Durante o ataque, uma senhora é assassinada, e dois dos ladrões são mortos pelos seguranças particulares. O terceiro consegue escapar e permanece escondido no local.



O filme mexicano se passa no interior de um conjunto residencial de luxo, chamado de "Zona", cercado pela pobreza como é comum em muitas cidades latino-americanas. “La Zona não é apenas a história de um assalto à mão armada e de uma perseguição, mas sim, a história de uma sociedade fracassada, dividida entre dois mundos que se temem e se odeiam”, explica Rodrigo Plá, diretor do longa-metragem.



Em entrevista exclusiva para Comunidade Segura, Rodrigo Plá e sua esposa, Laura Santillo, co-roteirista do filme, questionam a paranóia moderna em que vivemos e advertem: “a vigilância privada pode parecer uma solução, mas, no fundo, é parcial e não é definitiva. A presença de pessoas armadas implica outros perigos”.



O que os levou a fazer este filme?



Para nós, fazer cinema é uma maneira de interagir com o que nos rodeia. Os temas sobre os quais falamos são as coisas que nos comovem, os assuntos que nos indignam ou nos apaixonam. No caso do La Zona, vivemos imersos em uma sociedade onde a desigualdade econômica entre os habitantes é enorme e com índices de violência e impunidade alarmantes. La Zona é uma reação contra isso. Nos perguntávamos até onde chegaremos como sociedade e se haverá alguma maneira de mudar o rumo na direção de um mundo mais equilibrado. Levamos este questionamento para o filme.



O La Zona se baseia em um caso real?



É uma ficção, mas tratamos de desenvolvê-la com base em elementos que realmente existem, como a paranóia, o enfraquecimento das instituições de Justiça, a polarização social e o medo. A partir desse mundo inventado tentamos abrir uma reflexão, que é o melhor que podemos fazer como cineastas: que o filme estimule um pouco o debate sobre esses temas, que mostre um ponto de vista.



O filme trata da desigualdade socioeconômica e da violência urbana. Na sua opinião, como esses elementos se relacionam?



Sem dúvida, a desigualdade econômica e suas conseqüências estão muito evidentes. Um país onde alguns são obscenamente ricos enquanto a grande maioria é desesperadamente pobre, é um país que não funciona bem, sobretudo se levarmos em conta que o México é um país rico em termos de recursos naturais e também humanos.



E por que isso acontece, na sua opinião?



Talvez a maior preocupação que tenhamos como cidadãos esteja vinculada com a ausência do Estado, com as instituições de Justiça que estão desgastadas, com o descrédito da classe política que carece de projeto. Mas também com a sensação de que a função do governo se desvirtuou - porque um governo que não zela pelos interesses da grande maioria, que não busca o bem-estar coletivo, é um governo que esqueceu sua função primordial.



La Zona faz uma crítica dura ao uso indiscriminado das armas de fogo, assim como à segurança privada. Qual é a sua posição a esse respeito?



Sem dúvida, o filme questiona com firmeza a idéia de se fazer justiça com as próprias mãos. Pessoalmente, não sentimos que seja esta a maneira de seres humanos resolverem suas questões entre si. Além disso, não acreditamos que uma injustiça seja compensada ou solucionada por outra injustiça. Isso não significa que alguém não possa entender que a corrupção policial e a falta de justiça institucional possam levar pessoas a agir sob desespero.



Neste sentido, tentamos fazer com que todos os personagens do filme tivessem suas razões. Algumas pessoas podem perceber a segurança privada como uma solução, mas, no fundo, é parcial e não é definitiva. E pessoas armadas implicam outros perigos, como tentamos mostrar no filme em uma das tramas paralelas. Seguimos acreditando que é necessário que exista uma forma de justiça que inclua a todos sem colocar-nos uns aos outros como inimigos.



Como vocês percebem a diferença entre a percepção da violência por parte da sociedade e a violência de fato?



É uma pergunta difícil porque a idéia de sociedade inclui diversos setores e diferentes formas de relacionar-se com a violência. Realmente, o que nos parece é que em muitas ocasiões a percepção da violência é manipulada pelos meios de comunicação ou pelos governos. A paranóia e o medo podem ser situadas no plano político. Os EUA, por exemplo, usam muito o medo de seu povo. Muitas vezes, atiçar o fantasma da violência permite aos governos justificar o uso de outro tipo de violência, que não chega ser uma solução, que passa por uma militarização, mas também por formas mais sutis, como a perda de liberdades individuais e de privacidade.



Na sua opinião, como se poderia melhorar a segurança pública no México?



Há diversas causas para a deficiência da segurança pública no México. A polícia e as instituições de Justiça não funcionam corretamente, às vezes por corrupção, outras por falta de preparo, e também porque a remuneração – no caso da polícia – também não é boa. Isso é sinônimo de impunidade e, junto com isso, se encontra uma sociedade com um grande desequilíbrio econômico e, conseqüentemente, cultural, que condena grande parte de sua população a um futuro sem expectativas.



Quais seriam suas recomendações?



Suponhamos que a segurança pública seja algo que se deva exigir em um marco de justiça social. Na medida em que se tem uma sociedade mais equilibrada, aumentam as possibilidades de diminuir a delinqüência. Uma sociedade inclusiva e educada em valores úteis à sua própria sobrevivência, à tolerância, à idéia de bem comum, e que realmente reprove coletivamente quem causa danos a essa sociedade, quem rouba, quem se corrompe. E isso é válido em todos os níveis: para quem rouba na rua e para os ladrões de terno e gravata que se servem do dinheiro público para benefício privado.


Comunidade Segura.

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