sábado, 24 de maio de 2008

Falha cerebral molda perfil criminoso

O psicólogo britânico Adrian Raine, professor da Universidade da Pensilvânia, nos EUA, não teme as comparações de seu trabalho com os estudos que tentaram estabelecer as características físicas de assassinos em meados do século 18. Há quase 30 anos se dedica a entender a mente dos criminosos. E é taxativo: fator genético expressado por uma falha cerebral aumenta em 50% a probabilidade de o indivíduo se tornar criminoso. Não se trata, no entanto, garante ele, de encontrar em fatores biológicos atenuantes para os delitos ou criar um estigma, mas de compreender as origens dos desvios de conduta que levam pessoas a matar a sangue-frio seguidamente ou apenas uma única vez.

Em sua pesquisa, o psicólogo deparou com os mais diferentes tipos de assassinos. Desde os que nunca haviam pensando em matar aos que calcularam cada passo de seus crimes com antecedência assustadora. Essa diferença, explica, não é obra do acaso. O que, então, determina a formação de uma mente criminosa? Raine é enfático ao afirmar: pode se creditar 50% aos fatores sociais, como o ambiente familiar em que essas pessoas cresceram. Os outros 50% são resultado de fatores biológicos, como alterações da quantidade de massa cinzenta numa região do cérebro, o córtex pré-frontal.

O interesse de Raine pelo assunto surgiu em 1977, quando estudava o comportamento de crianças agressivas. "Elas apresentavam freqüência cardíaca bem abaixo do normal", diz. "Isso nos levou a pensar que poderia haver outras alterações."

Após quatro anos estudando o comportamento de assassinos em uma penitenciária na Inglaterra, Raine traçou características importantes. Os psicopatas são indivíduos com capacidade para discernir certo e errado, mas agem impulsivamente. Em situações de stress, apresentam batimento cardíaco abaixo do normal, suam menos do que as outras pessoas, como se não fossem afetados. Pedófilos agem da mesma forma. "O cérebro desses dois tipos de indivíduo apresenta redução significativa da quantidade de massa cinzenta no córtex pré-frontal."

A afirmação incomoda. Ele mesmo admite. Para seus críticos, falar de alteração cerebral é uma forma de eximir os criminosos de seus atos ou, pelo menos, "aliviá-los". Para os liberais, pesquisas como a de Raine podem levar a atitudes extremas, como tentar corrigir a "falha" antes que ela aconteça - o que o próprio Raine admite ser possível fazer.

O pesquisador é categórico ao afirmar que as alterações no cérebro dos criminosos não são determinantes para seus atos. E faz questão de provar. Ontem, no Congresso Brasileiro de Cérebro, Comportamento e Emoções, em Bento Gonçalves (RS), apresentou imagens do cérebro de assassinos feitas com PET (tomografia por emissão de prótons) e de seu próprio cérebro. "Meu córtex pré-frontal é igual aos que encontrei no estudo, nem por isso me tornei assassino", diz.


Estadão.

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