segunda-feira, 5 de maio de 2008

O processo de criminalização pela mídia - O comentário de Arnaldo Jabor

O que não se pode esquecer é que criminalizar é ato de manifestação política do poder institucionalizado e que parte da mídia é instrumento de manutenção deste poder e das regalias daqueles que o detém.

O texto que segue abaixo é uma degravação por nós efetuada, do comentário de Jabor já referido. Portanto, em razão da entonação dada por Arnaldo Jabor é que se efetuou a degravação que segue:

O comentário de Arnaldo Jabor

Amigos ouvintes eu tentei não ler sobre a morte da menina Isabella, também evitei, na época, os detalhes do assassinato daquele menino arrastado, o João Hélio, porque na minha profissão eu tenho que selecionar os horrores, senão fico maluco, mas eu não consegui. Eu vi o desfecho do caso da menina morta. Essa tragédia não é só das vítimas, nós também sofremos para entender esse mal incompreensível. Cresce em nós uma pele de rinoceronte na alma, com o coração mais duro ficamos mais cínicos, mais passivos, diante da crueldade. Um filósofo chamado Osvaldo Giacóia Júnior escreveu uma vez, o seguinte: “o insuportável não é só a dor mas a falta de sentido da dor, mais ainda, a dor da falta de sentido”. Como entender que um pai e uma madrasta possam ter ferido, estrangulado e atirado uma menininha de cinco anos pela janela, como entender a cara sórdida e cínica que eles ostentam, para fingir inocência. Como não demonstram sentimento de culpa algum? Ninguém berra, ninguém chora. Como podem querer viver depois disso. Como essa família toda pais, mães, irmãos, se unem na ocultação de um crime. E como o avô pode dizer com cara de pau que “se meu filho fosse culpado eu denunciaria”, que quer essa gente? Preservar o bom nome da família? Mas são parentes ou são cúmplices? A polícia deu um show de bola pericial no caso Isabella. Mas da pra sentir que a nossa estrutura penal ta muito defasada com esse espantoso crescimento da barbárie. Como se pode tolerar que um sujeito que foi condenado, outro dia, na semana passada, somente há treze anos, por ter esquartejado a namorada, alegando legítima defesa, possa ficar em liberdade até esgotar os recursos que a lei prevê, como disse o Supremo Tribunal de Justiça? Como entender que aquele jornalista Pimenta das Neves, que premeditou o assassinato da namorada com dois tiros pelas costas e na cabeça, condenado já há seis anos esteja ainda em liberdade, na boa? As leis de execução penal tem que ser aceleradas. As punições têm que ser mais terríveis, mais violentas, mais rápidas, mais temíveis. Há um crescimento da crueldade acima de qualquer quantificação jurídica. Essa lentidão, esse arcaísmo da justiça é visível não só nos chamados crimes de classe média não, como também na barbárie que galopa nas periferias. O Elias Maluco, lembram? Aquele que matou o Tim Lopes com golpes de espada, ele tava em liberdade condicional. Sabiam? Não se trata mais de uma perversão do humano, mas de uma perversão do animal em nós. Os pensadores da justiça continuam a tratar os crimes como desvios da norma, praticados por cidadões, cidadãos iguais. Tem que acabar o tempo dos casuísmos, das leniências, das chicanas. E esse casal de pedra, esses monstros, será que vão se defender em liberdade esgotando os recursos da lei, como o esquartejador por justa causa? Serão condenados há dez aninhos com atenuantes? O que acontecerá com eles? A lei tem que ser mais temida, mais rápida e mais cruel. Esse vazio da justiça explica o sucesso de filmes como “Tropa de Elite” e até, explica a fantasia de linchamento, em nossas cabeças, que Deus me perdoe! (Arnaldo Jabor) (grifos nossos)


O Estado do Paraná, Direito e Justiça, 04/05/2008.

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