quinta-feira, 22 de maio de 2008
Os pais órfãos
Mais de uma semana depois do terremoto que atingiu a China, ainda não se sabe o tamanho exato da devastação provocada pelo maior desastre vivido pelo país em 32 anos. Se considerarmos o número de pessoas que ainda estão desaparecidas ou soterradas, o total de mortos pode chegar a 72 mil, mais do que toda a população de Cornélio Procópio, a cidade onde eu nasci.
Entre os milhares de chineses que estão de luto, o sofrimento é especialmente agudo entre os inúmeros pais que perderam seus filhos únicos. Cerca de 7.000 escolas desabaram com o tremor, que atingiu uma área do tamanho de três Bélgicas e afetou de maneira direta 10 milhões de pessoas. Os edifícios soterraram milhares de crianças e adolescentes e deixaram muitos dos pais sem nenhum descendente, algo devastador para um chinês.
Ter filhos é valorizado por questões econômicas e culturais. Cabe a eles, principalmente se forem homens, cuidar dos pais na velhice. Além disso, há mais de dois milênios o confucionismo valoriza o culto aos ancestrais, que é realizado todos os anos no dia dos mortos (4 de abril). A prática foi combatida durante a Revolução Cultural (1966-1976) e era vista com um sinal de atraso e superstição pelos líderes comunistas. Mas com as reformas implantadas a partir de 1978, esta e outras tradições estão ressurgindo com força. Neste ano, o dia dos mortos voltou a ser feriado e milhões de chineses visitaram cemitérios para venerar seus ancestrais.
Os pais que perderam seus únicos filhos no terremoto não terão quem os venere depois de suas próprias mortes.
Estadão.
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