domingo, 4 de maio de 2008

Polícia comemora índice

A constatação de que 40,9% dos assassinatos ocorridos em abril de 2007 no Rio Grande do Sul permanecem sem solução não preocupa a Polícia Civil gaúcha.

Pelo contrário. É motivo até de exaltação.

- Levando-se em conta as deficiências, considero que a polícia está de parabéns por atingir um índice de 59% na solução de homicídios. Faz um brilhante trabalho. Gostaria que fosse 100%, mas esse número nenhuma polícia do mundo alcança - diz o chefe de Polícia, Pedro Carlos Rodrigues.

Dos problemas enfrentados pela corporação, o mais notório é o déficit de pessoal. O quadro é de 5 mil servidores, metade do previsto. Entre delegados, são 180 vagas em aberto, segundo cálculos da Associação dos Delegados (Asdep). É como se um terço das repartições estivesse sem responsável direto.

- Sem gente para o trabalho, o homicídio mais importante será sempre o que acontecer no dia, e os outros vão ficando para depois - analisa Wilson Müller Rodrigues, presidente da Asdep.

O delegado Pedro lembra que é necessário aumentar os investimentos em tecnologia para os órgãos de segurança. Ele defende que a corporação tenha o seu próprio aparelho de interceptação telefônica, conhecido como Guardião. O serviço hoje está sob controle da Secretaria da Segurança Pública (SSP).

- O Guardião e o 181 (número do disque-denúncia da SSP) ajudam muito a esclarecer crimes. Gostaria de ter esse equipamento, mas também que o policial, ao ir para um local de crime, tenha um laptop conectado à internet, consultando dados sobre suspeitos. E que o perito seja melhor instrumentalizado. Uma perícia bem feita pode representar 30% do esclarecimento de um crime - diz.

Em cidades da Região Metropolitana, o percentual de assassinatos insolúveis, ocorridos em abril de 2007, é ainda maior, 64%.

- O adequado é analisar dados de um maior espaço de tempo. O homicídio é um crime complexo que, às vezes, leva anos para ser resolvido - diz Cléber Ferreira, diretor do Departamento de Polícia Metropolitana.

É nessa região que a Polícia Civil passa por mais dificuldades humanas e materiais. Deveria ter o dobro de viaturas, mais radiocomunicadores e mais computadores.

A Delegacia de Homicídios e Desaparecidos (DHD) da Capital é o órgão com as maiores deficiências do Departamento Estadual de Investigações Criminais. Embora disponha de dois delegados, soma cerca de 25 policiais, quando deveria ter o triplo.

Polícia Civil esbarra no silêncio de testemunhas

O delegado Bolívar Llantada, da DHD, diz que abril de 2007 foi um mês atípico. Ele garante que o índice de solução de homicídios na Capital se aproxima dos 70%. E apresentou um balanço das investigações da especializada em 2007. Segundo ele, foram abertos 486 inquéritos para investigar homicídios. Desses, 278 teriam sido remetidos à Justiça com autoria conhecida, o que daria um percentual de esclarecimento de 57,2%.

- Dos casos de abril que seguem em aberto, tenho certeza de que, em pelo menos metade, temos autoria conhecida, aguardando apenas a finalização do inquérito - afirma.

Além das próprias deficiências, a Polícia Civil esbarra no silêncio das testemunhas. Uma regra que impera nas vilas, onde ocorre a maior parte dos assassinatos, é uma das razões para existirem crimes insolúveis.


Zero Hora.

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