sábado, 3 de maio de 2008

Polícia do Rio apresenta frentista como traficante; delegado admite erro

A polícia do Rio apresentou como traficante um homem empregado com carteira assinada e sem qualquer antecedente criminal. O frentista Paulo Vieira dos Santos, 22, foi detido durante operação da Polícia Militar na favela do Rebu, em Bangu (zona oeste), na quarta-feira (30). Ficou dez horas na carceragem da 35ª Delegacia de Polícia, em Campo Grande, para onde foi levado com outros quatro supostos traficantes e apresentado à imprensa como criminoso, juntamente com armas e drogas apreendidas na operação.

A polícia admitiu o erro, e o delegado Eduardo Soares, da 35ª DP, disse que abriu sindicância para investigar quem prendeu Santos e deixou que ele fosse apresentado e fotografado como traficante. A família de Santos disse que vai processar o governo do Estado do Rio.

Além de preso, o frentista foi agredido, usado como escudo humano para policiais se defenderem de tiros e obrigado a assinar um documento em que confessava ser traficante de drogas, segundo o irmão de Santos, Ricardo Vieira, 32. Vieira disse ainda que o irmão e a família já sofrem preconceito e são repreendidos por vizinhos e amigos por causa do erro da polícia.

O frentista foi detido por policiais militares na manhã de quarta-feira, quando a PM fazia operação na favela do Rebu, onde mora a namorada dele. Santos saiu da casa da menina e foi pegar sua moto quando ouviu os tiros e viu os policiais. Ao tentar voltar para a casa da namorada para se proteger do tiroteio, foi parado por um dos policiais, segundo Vieira.

"Os policiais foram atrás dele e fizeram uma revista normal, mas um dos policiais estava mais exaltado e já chegou dando um tapa no rosto dele e dizendo que ele era criminoso. Ele não tem nenhum vício em drogas, estudou até o 3º ano do ensino médio e trabalha desde cedo", disse o irmão.

Com a carteira de motociclista que Santos apresentou, os policiais checaram a ficha do frentista e viram que ele não tinha antecedentes criminais, através de um computador instalado nas viaturas da PM do Rio. O delegado negou que a checagem tenha sido feita na viatura e disse que só teve acesso à ficha do frentista na delegacia.

"Dispomos de notebook para fazer consultas nas viaturas, mas dentro de favela com troca de tiros é inviável", afirmou. "Assim que foi tomado conhecimento que ele não era traficante, ele foi liberado".

"O Paulinho ficou dez horas preso, sem ter nenhum antecedente ou flagrante. Os policiais entraram na casa da namorada dele em busca de drogas e quebraram a televisão. Ele ainda serviu como escudo humano para os policias no meio dos tiros. Poderia estar morto", afirmou o irmão do frentista.

O delegado disse que os policiais liberaram e pediram desculpas ao frentista assim que souberam que ele era inocente. Segundo ele, os outros quatro presos, que tinham ficha criminal, afirmaram que Santos não era traficante.

"Foi a primeira vez que aconteceu isso. Mas vamos apurar se houve abuso de autoridade, qual foi o policial responsável por levá-lo à delegacia e ter apresentado o Paulo à imprensa".

A Secretaria Estadual de Segurança do Rio informou que não vai se manifestar sobre o caso, já que a Polícia Civil está tomando as devidas providências. No dia da operação, o secretário estadual de Segurança, José Mariano Beltrame, esteve na 35ª DP para verificar o material apreendido na ação, na qual outros três homens, que a polícia também alega serem bandidos, foram mortos.


Folha de São Paulo.

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