quinta-feira, 15 de maio de 2008

Sem-teto é a 21ª pessoa assassinada em Maringá este ano





Corpo foi encontrado nesta quarta-feira no interior de um terreno da Avenida das Indústrias, que servia de abrigo para sem-teto.

Seis anos após abandonar a família e optar por uma vida 'errante', o pintor desempregado Manassés Aparecido de Souza, 46 anos, o "Maninho", foi assassinado a pancadas na periferia de Maringá. O crime eleva para 21 o total de homicídios este ano, média de uma morte a cada seis dias.

O corpo do pintor foi encontrado por volta das 11 horas desta quarta-feira (14) no interior de um terreno da Avenida das Indústrias, imediações da Secretaria de Serviços Públicos (antigo Saop), onde a vítima residia havia cerca cinco de anos.

De acordo com a Polícia Civil, a vítima apresentava ferimentos na face e afundamento de crânio. Uma tora de madeira suja de sangue e pesando cerca de 20 quilos e um cabo de vassoura quebrado, com um prego numa das pontas, estavam ao lado do corpo.

A vítima, que não apresentava documentos, foi identificada cerca de uma hora após dar entrada no Instituto Médico-Legal (IML). O reconhecimento foi feito por um sobrinho, André Santos Souza, 32, que procurou o órgão após ouvir a notícia da morte pelo rádio.

Horas depois, André compareceu na delegacia acompanhado do irmão, Flávio dos Santos Souza, 37, para buscar a guia para exame de necropsia. Os dois confirmaram que o tio era alcoólatra e havia abandonado a casa onde morava, no Jardim Itatiaia, há cerca de seis anos.

"Depois que o nosso pai faleceu, ele (Manassés), deixou a casa e foi morar na rua. Desde então, passou a ocupar imóveis abandonados em companhia de andarilhos", contou Flávio, que trabalha como auxiliar de serviços gerais na Secretaria de Serviços Públicos.

Flávio contou que todas as manhãs avistava o tio em companhia de dois andarilhos dentro do terreno próximo da Secretaria de Serviços Públicos. "Ontem, por volta das 6h30, vi apenas os colegas dele deixando o terreno e achei estranho."

Ainda de acordo com o sobrinho, o vício pela bebida fez com que Manassés passasse a ingerir álcool combustível. Para camuflar o gosto forte da bebida, ele a misturava com suco em pó. "Ele chamava a mistura de 'doidão' e ficava violento após se embriagar", afirmou Flávio.

André frisou que a família tentou convencer Manassés a abandonar o vício e a vida errante, mas ele ignorava. "Sempre o alertamos que ele teria um triste fim, mas nada foi capaz de fazê-lo mudar de idéia."

Uma equipe da Polícia Civil foi ao local para identificar e prender os suspeitos do crime, mas até o final da tarde nenhuma pista havia sido encontrada.


O Diário do Norte do Paraná


VEJAM O ARTIGO DE MINHA AUTORIA SOBRE O TEMA "GENTE DE RUA"



Gente da Rua

Por Neemias Moretti Prudente. Gente da Rua. O Diário do Norte do Paraná, Maringá, 02 fev. 2008. Opinião, p. 2.


Ao caminharmos pelas ruas da nossa cidade, gastamos um bom tempo analisando a dramática situação da “gente da rua”, pessoas que estão a margem da margem da sociedade. Dramática porque sabemos que quase ninguém escolhe viver nessas condições. A ida para as ruas é um processo lento e sofrido, que envolve uma sucessão de perdas e uma sistemática desumanização. A saída, também penosa, demanda um esforço enorme dos que atravessam esse “Saara” para restabelecer vínculos e se reintegrar à sociedade.
A ONU estima que atualmente haja cerca de 100 milhões de pessoas vivendo nas ruas das grandes cidades do planeta. Em Maringá, segundo estimativa da SASC, 300 pessoas residem nas ruas.
Este fenômeno está intimamente ligado à pobreza, ao desemprego, a falta de moradia, ao crescimento da população urbana, a migração e imigração, a desestruturação familiar, a precariedade da qualidade e da abrangência da rede de saúde mental, o abuso de álcool e outras drogas.
Estas pessoas, sujas, mal cheirosas, encardidas, andam pelas ruas sem lembranças sólidas, pensando somente no agora, ele já não valoriza mais seu próprio corpo, pois já não se importa com banhos, cortes de cabelos ou com se barbear, seja homem ou mulher, eles se embriagam, procuram tocos de cigarro pelo chão, restos de comida pelos lixos, e se encontram em baixo das pontes, viadutos, prédios e casas abandonas, procurando lugar para abrigarem do frio e da chuva. Seu sustento resulta de pequenos delitos patrimoniais, pequenas transações de drogas, venda de sucata e papel, mendicância, flanelismo.
Em virtude da posição social que ocupam, a sociedade acha que eles constituem uma raça a parte, são parasitas, desprezíveis, vagabundos, criminosos, inúteis por natureza. Tenho certeza que você nunca se interessou por eles, ou se interessou?
Não creio que exista algo neles que o coloquem numa categoria diferente da das outras pessoas ou que dê à maioria dos homens modernos o direito de desprezá-los, somente porque - neste maldita sociedade em que o capital e o poder se transformou na grande prova de virtude - não conseguem sobreviver conforme os padrões normais da sociedade.
O poder público, deveria sim, incentivar e promover o uso adequado e comunitário dos espaços públicos e oferecer oportunidades reais de garantia de direito à população em situação de rua, sem distinção.
O acolhimento é o primeiro passo de um longo processo em direção à emancipação e à inclusão social, durante o qual se pretende fazer com que essas pessoas se conscientizem de sua situação, resgate vínculos afetivos e seja capaz de mudar padrões de comportamento e descortinar novas possibilidades na vida.
Como humanista que somos entendemos que o debate é imprescindível para a construção de uma sociedade justa, livre e solidária, mas se conduzido de maneira correta, convidando para a arena todos os envolvidos com a questão.
Precisamos construir, coletivamente, a porta de saída da exclusão social. Por isso conclamamos todos a dar mais que uma esmola, a dar futuro.
Quem sabe uma “gente da rua”, com vocação poética, tenha escrito este poema anônimo gravado num muro: “Pra falar a verdade/ nunca tive um pijama,/ pra quê, se nunca tive cama?/ Comida, que comida?/ lixo e tal./ Verdade verdadeira, nunca tive um brinquedo,/ apenas tive medo./ Mas hoje há tanto frio, tanta umidade,/ que invento um cobertor de sol poente/ e um pijama de sonho em cama quente./ É bom brincar, sonhar em ser gente”.


O que acham?

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