domingo, 11 de maio de 2008

Violência doméstica obriga mulheres a passar Dia das Mães longe de casa

Ana Paula, de 22 anos, e a filha de 2 anos e três meses, vão comemorar o Dia das Mães em uma Casa Abrigo mantida em Brasília pelo Conselho dos Direitos da Mulher do Distrito Federal. Junto com outras 16 mães e 20 crianças que vivem atualmente no local, elas tiveram de sair de casa por causa da violência a que eram submetidas e das ameaças que sofriam.

Para ela, hoje será o primeiro Dia das Mães digno que terá. “Este domingo para mim é de renovação, porque no Dia das Mães eu não era nem lembrada. É a primeira vez que eu terei mesmo um Dia das Mães”.

O sofrimento de Ana Paula durou pouco mais de três anos, mas segundo ela, pareceu uma eternidade. Ela conta que o companheiro, de 56 anos, negociante autônomo de veículos, costumava bater nela por motivos fúteis, não permitia que trabalhasse ou estudasse e a forçava permanentemente a práticas sexuais violentas.

“Eu vivia uma vida de cão. Era só abaixo de humilhação. Qualquer coisa era motivo para ele me bater. Me violentava sexualmente, psicologicamente e de todas as maneiras”.

Quando fala da gravidez, Ana Paula se emociona ao lembrar que muitas vezes foi chutada, empurrada e obrigada a dormir no chão frio, depois de reagir às tentativas de estupro. Em uma das discussões o companheiro tentou estrangulá-la e Ana Paula diz que só foi salva porque o enteado intercedeu em seu favor.

As ameaças de morte e de ficar sem a filha a desencorajavam de tentar por um fim ao relacionamento.”Ele tinha um revólver embaixo da cama e dizia: 'quando te achar eu te passo fogo, a minha filha você não leva'. Eu tinha medo de denunciar, ele ser preso e, depois que saísse fosse atrás de mim.”

Segundo Ana Paula, as informações de uma vizinha sobre a legislação de proteção à mulher e a preocupação com o futuro da filha a levaram a procurar uma delegacia, que a encaminhou ao abrigo.

“Eu já não aguentava mais aquela vida de ver ele bater nela e em mim também. Além disso, ele dizia que ia cuidar das partes íntimas da bebê para que ficassem do gosto dos homens”.
Só no ano passado, 209 mulheres, 384 crianças e 41 adolescentes passaram pelo abrigo em que Ana Paula vive há seis meses. O local é um das 64 Casas Abrigo existentes no país para garantir a segurança de mulheres que denunciam a violência doméstica.

Enquanto permanecem nos abrigos, onde seus filhos também podem ficar, elas recebem atendimento médico e psicológico, recebem capacitação e aguardam que a Justiça providencie as chamadas medidas de proteção, como a determinação para que o agressor saia de casa ou fique proibido de aproximar-se da vítima, sob pena de ser preso. As mulheres que trabalham têm a garantia de não serem demitidas durante o período que ficarem abrigadas.

Segundo a coordenadora da Casa Abrigo do DF, Vera, em cerca de 90% das histórias das mulheres atendidas há o envolvimento do agressor com drogas ou alcoolismo, geralmente maridos, pais e companheiros.

“Todas elas têm a mesma história: passam pela violência por muito tempo e chega uma hora em que resolvem falar”.

Dados da Central de Atendimento a Mulher, que funciona em âmbito nacional pelo telefone180, dão uma idéia do quadro da violência contra a mulher no Brasil. O serviço, ligado à Secretaria Especial de Políticas para as mulheres, registrou no ano passado cerca de 20 mil denúncias de violências contra a mulher.

Dos relatos, mais de 65% envolveram violência física: 10,8 mil casos de lesão corporal leve; 1,8 mil de lesão corporal grave; 266 de lesão corporal gravíssima; 211 tentativas de homicídio; 79 homicídios e 55 casos de omissão de socorro.

Em segundo lugar, aparece a violência psicológica, com 3,8 casos de ameaças, 375 de perseguições, 28 de assédio moral no trabalho. Também foram registradas 441 situações de violência sexual, 120 de cárcere privado e 160 de violência patrimonial. A violência moral (calúnia, difamação e injúria) foi denunciada em 1,8 mil ligações.

A maioria das mulheres relatou sofrer agressão diariamente (61%) e menos de 8% delas procurou ajuda na primeira vez que ocorreu a violência. Segundo o levantamento, os agressores são, na maior parte dos casos, os próprios companheiros (69,5%) que, muitas vezes, são usuários de drogas e álcool (em 57% dos relatos).


Agência Brasil.

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