segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

CPI do Tráfico de Pessoas volta a Natal para rever rapto de 5 crianças


Comissão vai à Assembleia Legislativa do RN na segunda-feira (03).

Missão é o 'Caso das Crianças do Planalto', desaparecidas há 14 anos.

Anderson Barbosa
Do G1 RN
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Crianças desaparecidas no bairro do Planalto, em Natal, entre os anos de 1998 e 2001 (Foto: Divulgação/Polícia Civil do RN)
Moisés Alves da Silva, Joseane Pereira dos Santos, Marília Silva Gomes, Gilson Enedino da Silva e Yuri Tomé Ribeiro são as crianças desaparecidas no bairro do Planalto, em Natal, entre os anos de 1998 e 2001
(Foto: Divulgação/Polícia Civil do RN)
A Comissão Parlamentar de Inquérito do Tráfico Nacional e Internacional de Pessoas do Senado volta a Natal na próxima segunda-feira (03) e realiza, a partir das 9h, na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte, audiência pública para, mais uma vez, rever e discutir o desaparecimento, entre 1998 a 2001, de cinco crianças no bairro Planalto, na zona Oeste de Natal. O mistério ficou conhecido como o 'Caso das Crianças do Planalto'.
Já solicitamos ao Ministério da Justiça que a Polícia Federal também atue no caso para aprofundarmos as investigações"
Senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB/AM)
Uma comissão especial chegou a ser criada em 2003 para dar novo fôlego às investigações. Já em dezembro de 2009, a deputada federal Bel Mesquita (PMDB/PA) esteve em Natal. Ela presidiu a CPI durante a audiência realizada na mesma Assembleia que, nesta segunda, recebe novamente a Comissão. Naquele dia, Bel afirmou que faria os encaminhamentos necessários para a investigação ficar a cargo da Polícia Federal, o que não aconteceu.
Passados todos estes anos, a Polícia Civil continua sem respostas para dar às famílias. As principais suspeitas, no entanto, indicam que as crianças teriam sido levadas de suas residências para a remoção de órgãos ou para adoção ilegal por estrangeiros.
A presidente da CPI, senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB/AM), diz que a audiência será uma forma de cobrar estas respostas. “Já solicitamos ao Ministério da Justiça que a Polícia Federal também atue no caso para aprofundarmos as investigações”, disse ela. A senadora irá coordenar a audiência na capital potiguar.
“Esse caso das crianças desaparecidas do Planalto aconteceu há 14 anos e estou acompanhando com muito empenho. A CPI veio para acrescentar e tentar esclarecer esses desaparecimentos, já que o caso apresenta sérios indícios de tráfico de crianças”, disse o senador Paulo Davim (PV/RN), membro da CPI.
O 'Caso das Crianças do Planalto'
Além dos familiares das crianças, irão participar da audiência o secretário estadual de segurança pública Aldair da Rocha, o procurador-geral de Justiça Manoel Onofre Neto e o delegado da Polícia Civil Márcio Delgado, designado especialmente para o caso.
Lindalva e Geraldo ainda têm esperança de encontrar a filha Joseane  (Foto: Magnus Nascimento)
Lindalva e Geraldo ainda têm esperança de
encontrar a filha (Foto: Magnus Nascimento)
Lindalva Florêncio da Costa tem 53 anos. Ano passado ele sofreu um AVC e quase morreu. Passou por uma cirurgia complexa, que lhe deixou sequelada – uma dormência permanente nas pernas. Até hoje ela tem dificuldades para andar. Ao longo da vida, engravidou doze vezes, mas acabou perdendo três bebês quando ainda estava gestante. Uma queda de bicicleta, uma hemorragia e a hepatite lhe fizeram abortar as crianças. Inegavelmente, foram muitas as dores na vida de Lindalva. Porém, para ela, nada disso importa. O sofrimento que ainda não superou é um só: o sumiço da pequena Joseane Pereira dos Santos, quando ela tinha oito anos. Aconteceu no dia 30 de janeiro de 1999.
Se viva estiver, Joseane já terá completado 21 anos. “Eu tenho fé. Meu coração me diz que ela está em algum lugar fora do país, mas que ainda está viva. Bem viva”. As palavras que exalam esperança soam em meio a muitas lágrimas. Reaberto em 2011, o inquérito ainda não aponta suspeitos. E até hoje a Polícia Civil não sabe, de fato, o que aconteceu com Joseane, ou simplesmente Biba, como era carinhosamente chamada a filha de dona Lindalva, e mais outras quatro crianças que desapareceram no bairro do Planalto, todas de forma misteriosa, entre os anos de 1998 e 2001.
Segundo as investigações, quatro das cinco crianças dormiam quando teriam sido raptadas. Apenas Joseane estava acordada quando foi levada. “Ela estava na casa da vizinha, assistindo o DVD do Tiririca”, relembrou Lindalva, emocionando-se com a dolorosa recordação.
O Caso das Crianças do Planalto é uma das páginas mais surpreendentes e instigantes da crônica policial potiguar. Depois de o inquérito passar pelas mãos de mais de 10 delegados ao longo de todos estes ano, a atual responsabilidade de dar um desfecho diferente ao mistério está com o delegado especial Márcio Delgado Varandas. O G1 tentou contato com o delegado, mas ele não atendeu e nem retornou as ligações.
Ela está em outro país. Eu acredito que a levaram para algum casal que não podia ter filhos”
Feirante Geraldo Santos, pai de Joseane
O pai de Joseane, o feirante Geraldo Santos, também tem esperança de um dia encontrar a filha. “Tenho certeza disso. Ela está em outro país. Eu acredito que a levaram para algum casal que não podia ter filhos”, declarou, referindo-se ao tráfico internacional de crianças. Questionado se acredita na possibilidade de Joseane ter sido morta – para que seus órgãos pudessem ter sido comercializados – o vendedor de frutas agarrou-se à fé em Deus. “Nunca pensei nisso. Minha filha está viva. E um dia voltaremos a vê-la. Pode passar mais treze anos, mas um dia estaremos juntos de novo”, disse Geraldo.
O mistério no Planalto começou em novembro de 1998, quando Moisés Alves da Silva, de 1 ano e 7 meses, foi levado de dentro de sua casa. Ele dormia com os pais e os irmãos. Em janeiro do ano seguinte foi a vez de Joseane Pereira dos Santos, de 8 anos, ser raptada da casa de uma vizinha. O terceiro sumiço aconteceu em janeiro de 2000, com o rapto de Yuri Tomé Ribeiro, de 2 anos. Três meses depois, o pequeno Gilson Enedino da Silva também desapareceu. O último caso aconteceu em dezembro de 2001, quando Marília da Silva Gomes, de 2 anos, também desapareceu de dentro de sua residência, onde dormia com a mãe, os irmãos e o padrasto.
G1.

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